Desde a longínqua Conferência de Alma Ata (1978) a ordem mundial mudou; no entanto, os CSP continuam a ser o modelo mais eficaz e eficiente para a construção de sistemas de saúde sólidos, equitativos e com uma vocação de cobertura universal. Assim sendo, porque é que os CSP não recebem a atenção e os recursos necessários para impulsioná-los no mundo inteiro, especialmente nos países em vias de desenvolvimento como é o caso de Moçambique?
No próximo ano, estrear-se-á o documentário que medicusmundi realizou sobre a aplicação dos princípios de CSP em Moçambique. Dirigido por KANAKI Films, o documentário recorda os principais avanços e desafios do setor da saúde no país, e revê os aspetos históricos, políticos, sociais e económicos que tiveram e têm uma incidência especial nos serviços sociais básicos, especialmente no setor da saúde. Aborda, entre outras questões, temas relevantes como a liderança do governo num setor muito dependente de uma ajuda externa extremamente fragmentada; o facto de uma grande parte da comunidade de doadores continuar a priorizar as intervenções verticais, sobretudo o controlo da infeção VIH/ SIDA, a malária e a tuberculose, em detrimento de uma política nacional que defenda os CSP; a luta pela cobertura universal e o reforço do sistema público, no contexto de uma economia de mercado agressiva e em crescimento graças à exploração dos recursos minerais ; a dualidade urbano-rural, cada vez mais patente e que tem um impacto decisivo na equidade e no acesso aos serviços de saúde; e o aumento significativo do peso dos serviços de saúde privados.
Filmado em Maputo e na província de Cabo Delgado, o documentário contou com a participação de figuras relevantes do Ministério da Saúde, centros de investigação europeus e africanos, sociedade civil moçambicana, organizações não governamentais internacionais, representantes da comunidade de doadores, trabalhadores do sistema nacional de saúde e utentes do mesmo.
Da parte da medicusmundi desejamos que este documentário possa contribuir para uma reflexão acerca da necessidade de construir uma visão comum entre governo, sociedade civil e doadores sobre o modelo de saúde que Moçambique necessita, de maneira a assegurar que o sonho de Alma Ata de “saúde para todos” se cumpre. O documentário entra agora em fase de montagem e iremos informando pontualmente sobre a sua estreia.
Tradução do espanhol: Vasco Coelho