“Money alone is not the answer […] Strong primary health care is capable of meeting the vast majority of communities’ diverse health needs.” – PHCPI Strategy.
No passado mês de setembro de 2015, a Fundação Bill & Melinda Gates, o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançaram a iniciativa “Primary Health Care Performance Initiative Strategy” (PHCPI), com o objetivo de apoiar os países em vias de desenvolvimento a melhorar os seus serviços de cuidados de saúde primários.
Na medicusmundi alegramo-nos por esta iniciativa e esperamos que seja mais um contributo na luta pelo direito à saúde. Parece que, aos poucos, a mensagem que andamos há anos a espalhar também se está a entranhar entre aqueles que controlam os fundos.
É importante lembrar o esforço que temos vindo a fazer para reunir apoios para a causa dos Cuidados de Saúde Primários; sendo que, há mais de um ano, conseguimos levar a nossa mensagem a todos os doadores de saúde de Moçambique através do SWAP. Chegámos armados de argumentos, de experiências, de ideias e de sonhos para apresentar a nossa estratégia “CSP: Tornemo-los realidade”.
Esta estratégia pretende revitalizar os princípios de atuação dos CSP em Moçambique, mediante o fortalecimento do sistema de saúde, da promoção dos CSP no âmbito académico e de investigação e da defesa desta abordagem sócio-sanitária como a melhor opção que os países em vias de desenvolvimento (e todos os outros) têm para garantir o direito à saúde.
Foi, sem dúvida, um dia de trabalho frutuoso e interessante, no entanto reconhecemos que tentar passar esta ideia aos principais doadores de saúde do país foi como bater contra uma parede. Não foram poucos os comentários em que nos chamaram “sonhadores e utópicos”. Também não foram poucos os doadores que se refugiaram num “isso é impossível, é coisa do passado, vivemos noutro tempo, temos que trabalhar a partir de fundos verticais”. Pergunto-me agora se os doadores que se reuniram nesse dia teriam dito a Bill Gates que ele também era um sonhador e um utópico. Provavelmente, ter-lhe-iam brindado com uma boa salva de palmas.
De qualquer forma, a paciência e a certeza de que estamos no caminho certo dão-nos a força para continuar esta luta; não desfalecemos naquele momento, nem o faremos no futuro. Desde essa apresentação, continuámos com este caminho, e são muitos os que têm vindo a unir-se à nossa causa. Não vamos deixar de lado o nosso sonho, que não é outro senão o de ver um país inteiro que queira que a saúde se torne um direito e que esteja ao alcance de todos e de todas.
A PHCPI é um avanço de um ator poderoso do setor, mas atenção, temos que ir muito mais além. A PHCPI pretende melhorar o sistema de informação sanitária e fortalecer os sistemas nacionais de saúde, o que não é pouco; mas, se realmente queremos melhorar a saúde da população de Moçambique, isto ainda não é suficiente. Sem ser o único, o sistema de saúde também é um fator determinante de saúde da população. Devemos abordar, de uma vez por todas, os determinantes sociais de saúde e assegurar que o contexto socioeconómico e político a proteja como um direito.
Bem-vindos Sr. e Sra. Gates, BM e OMS a este caminho. Na medicusmundi, esperamos poder encontrar-nos e trabalhar juntos neste grande repto.
Ivan Zahinos Ruiz
Diretor de projetos de cooperação da medicusmundi Catalunya
Tradução espanhol-português de Vasco Coelho
Foto: David Goehring